Fim
de ano, aprovações nas escolas, formaturas, Natal, a perspectiva de
um ano novo, apresentações dos cursos de dança, música, etc.
Comemore
tudo isso de modo que não deixe a sua família e os que o amam sem
querer comemorar mais nada, por vários anos ou a vida toda. Leia
esta mensagem:
“Seu
filho está morto.” Esta é uma notícia que ninguém deseja ouvir.
Por
Dale Martel
Talvez
você só me conheça como o policial que lhe aplicou uma multa no
verão passado, mas eu sou também aquele vizinho que mora um pouco
mais adiante de sua casa. Sou pai de dois filhos e tenho os mesmos
sonhos que você a respeito do futuro das crianças – assim como a
mesma decepção e vergonha sempre que um filho se mete em alguma
encrenca.
Enfrento
muitos dos mesmos problemas que você, mas fico aflito ao saber que
sou tachado de mau, quando estou apenas tentando fazer meu trabalho
como policial. O que eu mais quero, na verdade, é evitar o tipo de
tragédia com o qual tenho me defrontado.
O
cenário é uma reta de estrada, com uma curva fechada ao fim do
trecho. Está chovendo e as estradas encontram-se escorregadias. Um
carro com excesso de velocidade, a 130 km/h, erra a curva e desce por
um barranco, atingindo em cheio uma árvore. Um dos dois jovens é
projetado para fora e atirado contra uma árvore. O motorista morre
no mesmo instante. Ele teve mais sorte.
A
garota atirada contra a árvore quebrou o pescoço. Ela fora eleita
rainha da festa de fim de ano na escola e a aluna com maior
probabilidade de sucesso na vida. Mas agora vai passar o resto de
seus dias numa cadeira de rodas, revivendo mentalmente, vezes sem
fim, aquele momento terrível.
No
instante em que chego à cena do acidente, vejo o carro com as rodas
para o ar. Fumaça e vapor desprendem-se do motor, arrancado do lugar
por uma força extraordinária. A estrada está deserta, exceto por
um passante, que testemunhou o acidente. Ele se sente mal e
encosta-se no próprio carro, em busca de apoio.
Minha
mente se concentra nos gritos que vêm da garota lançada fora do
carro. Corro até ela com um cobertor, mas tenho medo de movê-la. A
cabeça está inclinada num ângulo grotesco. Ela não parece
perceber minha presença e chora, chamando a mãe como se fosse uma
criança.
No
local de outro acidente, encontro o motorista em estado de choque,
sem conseguir sair de trás da barra de direção, toda retorcida. O
rosto dele ficará para sempre marcado pelos cortes profundos
provocados por vidro quebrado e pontas de metal. Esses cortes serão
curados, mas as feridas internas não estão ao alcance de nenhum
bisturi.
Num
outro dia, em outra cidade, chego ao local momentos depois
de um rapaz bater com o carro. Ele está coberto de sangue, que
jorra de uma artéria rompida por um osso quebrado, cuja ponta se
projeta abaixo do cotovelo. Sua respiração sai entrecortada,
enquanto ele tenta desesperadamente sorver o ar pelas vias
respiratórias inundadas de sangue. O rapaz não consegue falar e
seus olhos arregalados se fixam em mim, pedindo ajuda. Eu o reconheço
como o mesmo garoto a quem adverti numa outra noite, ao encontrar uma
garrafa de bebida aberta em seu carro. Se eu o tivesse multado,
talvez hoje ele estivesse vivo.
Mas
o garoto acaba morrendo em silêncio, em meus braços, os olhos azuis
pálidos fixos no vazio, como se tentassem enxergar o futuro que ele
nunca verá.
Ouço
o lamento da ambulância, enquanto sou tomado por uma forte
sensação de perda, pelo desperdício dessa força inestimável,
que é nossa juventude. A equipe da ambulância remove o corpo do
rapaz, enquanto lágrimas descem por meu rosto, misturando-se às
gotas de chuva.
Você
me pergunta: por que isso aconteceu? Porque um adulto, tentando ser
camarada, comprou ou vendeu uma caixa de cerveja para um menor de
idade. Aconteceu porque um jovem, meio fora de si, pensou que poderia
manejar uma bala suicida a mais de 100 km/h. Fico revoltado e
frustrado quando penso nos pais e líderes comunitários que
acreditam que um pouco de álcool não vai fazer mal a ninguém. E
sinto enorme desprezo pelas pessoas que defendem a liberação do
consumo de álcool por jovens, alegando: “Eles vão beber de
qualquer jeito; então, por que não legalizar?”
Sim,
estou furioso, e rezo a Deus para não mais ter de encarar um pai no
meio da noite e dizer: “Sua filha ou seu filho morreu num acidente
de carro.”
Espero
também que isso não aconteça com você. Mas, se continuar a
encarar o abuso de bebida como algo que faz parte do processo de
crescimento, por favor deixe acesa a luz da varanda porque, numa
noite fria e chuvosa, vai me encontrar parado em sua porta, os olhos
baixos, trazendo uma notícia para você.
Extraído
da revista “Seleções – Reader’s Digest” maio de 2001,
página 31.