Deus
me deixou conhecer o remorso:
sentir-me
réptil e verme;
ré
e promotora, o dedo estendido na própria direção,
num
ângulo só possível numa consciência que se debate na angústia de
voltar atrás,
começar
de novo,
suplicando
a graça única de mais uma oportunidade que, provavelmente,
se
perderia mais uma vez...
Deus
me permitiu passar pela dor sem esperança de cura, sem promessa de
libertação...
Deixou-me
conhecer o abandono, o esquecimento,
a
solidão, maior ainda porque não no deserto “onde feras e anjos”
fazem companhia,
mas
no meio da multidão...
Permitiu-me
passar pela tentação...
Não
foi tudo de uma vez só.
Houve
uma seqüência, um “crescendo” para baixo,
sempre
para baixo, até onde os por quês não encontram resposta,
nem
no céu, nem no inferno...
E
então, só então na escuridão compacta,
Sólida,
o milagre aconteceu:
A
pedra bruta fez-se brilhante lapidado,
mais
precioso ainda contra o fundo negro da dor.
E
eu retornei:
marcada
e exausta como quem sai de uma batalha;
exultante
como quem volta com os despojos.
Não
saberei nunca por que foi preciso descer a tal escuridade,
mas
terei sempre um “para que” como início da resposta que Deus quer
que eu seja:
Quando
me confessarem erros, chorarem fracassos,
clamarem
por oportunidades perdidas, falarem de dor,
haverá
uma sinceridade muito maior em meu gesto de consolo,
minha
palavra de compreensão:
uma
identificação só possível naqueles que,
passando
pelas “escuridades”, lembraram-se das promessas,
tomaram
posse delas e voltaram com os seus “tesouros”,
tão
mais preciosos por causa do contraste,
do
milagre que lembram,
do
preço que custaram ao Senhor!...
(Deus
fala na Sombra,
Editora Juerp, 1985, p.10)
Nenhum comentário:
Postar um comentário